Faleceu um figueirense de gema extremamente popular
José António
…o Zé António da mercearia, como era mais conhecido particularmente na nossa cidade mas geralmente por toda a gente, um homem ouvido e respeitado, um purista das ideias e dos costumes…
Chegou-nos hoje de manhã a noticia do súbito falecimento de José António dos Santos Antunes, mais conhecido pelo Zé António, o homem que “sabia de tudo um pouco”! Segundo o próprio nos confirmou, chegou a decorar todo o dicionário nos finais dos anos cinquenta. Nasceu a 16 de Novembro de 1931, pelas 20 horas, na rua da Fonte da Figueira da Foz. Foi assistido pelo Dr. Sotero, tudo correu bem. Àh, nasceu com 3.750 quilos, fez questão de nos informar.
Casou, com 41 anos, com a D. Maria da Piedade Vahia Borges na Igreja da Ordem Terceira e com a bênção do padre Paulo Ribeiro, pelas 13 horas do dia 21 de Novembro de 1971, na que foi a maior alegria da sua vida, fazendo-nos na altura notar que ele e a mulher eram homozigóticos, ao qual retorquimos: “-Ai sim!? Não me diga!!...”
Já se sabe que o Zé António, nas suas conversas, ia até ao pormenor dos minutos, dos segundos, dos nomes das pessoas, do tempo que fazia exactamente há 25 anos atrás quando assistiu a determinado caso pelas 23 horas e dezanove minutos… incrível a sua capacidade de relembrar factos e datas das quais mais ninguém se lembrava… e homozigóticos só queria afinal dizer que ambos tinham o mesmo signo!!
Depois de, com 7 anos, ter dado uma queda de cerca de 16 metros e de ter sobrevivido miraculosamente, o que é certo é que até essa altura ele, que era um mediano estudante sem “queda” para os estudos, viu as suas capacidades de aprendizagem desmesuradamente aumentadas, passando os anos com uma espantosa facilidade. Só tirava 19 e 20. Uma vez andou triste uma semana por ter tirado uma nota muito baixinha: Um mísero 18!!
E não entrou para a escolaridade superior por não ter tido nota suficiente a Canto Coral (não percebia nada de música) nem a Religião!!
Era muito assediado por alunos em dificuldade que lhe pediam ajuda para aquele exame muito complicado e, numa dada altura em que foi ao programa ZIP-ZIP da RTP (16/Nov/969) bem lhe tentaram colocar umas rasteiras com perguntas sobre palavras difíceis do Dicionário de Língua Portuguesa, as quais ele todas cerceou. Já aqui o dissemos, dicionários era com ele!
Outro episódio interessante foi quando lhe esconderam, na brincadeira, o discurso que tinha preparado para homenagear o comandante Mário Luís dos Santos (Pardal), aquando das suas “Bodas de Ouro”. O Zé António não se atemorizou e discursou de improviso citando, palavra a palavra, o que tinha escrito, sem falhar uma virgula!! Calcule-se a “cachola” do surripiador!...
E daquela vez em que foi apresentador dum circo, devido ao apresentador principal ter adoecido? Pois apresentou todo o espectáculo sem uma falha, e em português, espanhol, inglês e francês! Um êxito!
Mais histórias tem o autor deste escrito, retiradas duma entrevista com o Zé António em Abril de 1987. Um homem muito particular, de ideias bem vincadas, do qual os figueirenses sentirão muitas saudades, e que com estas palavras se deseja prestar uma singela homenagem.
Faleceu na madrugada de 27 de Julho. O funeral realizou-se na tarde de hoje, dia 28, pelas 15 horas. Que descanses em paz, José António.
T.F.
T.F.
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